VOCÊ DEFINE SEU TRABALHO. SEU TRABALHO NÃO DEFINE VOCÊ

Tempo de leitura: 4 minutos

TRABALHO
substantivo masculino
1.conjunto de atividades, produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim.

2.atividade profissional regular, remunerada ou assalariada.

Uma das muitas coisas que distingue o Brasil de países mais desenvolvidos, e infelizmente de uma forma desfavorável ao nosso, são as relações trabalho e a forma como algumas profissões são vistas de modo preconceituoso por aqui e por conta disto acabam sendo muito mal remuneradas. Toda profissão tem relevância dentro da dinâmica econômica. Basta pensar no que aconteceria se de repente fossemos privados de alguns profissionais. É por isto que nos países de menor desigualdade social a renda dos trabalhadores de diversas atividades não apresentam a mesma disparidade do que ocorre aqui.

Tomemos por exemplo a Suécia. Lá o salário de um lixeiro é de aproximadamente 34 mil coroas suecas, ou cerca de 11,7 mil reais por mês. É pouco menor do que o salário de um médico veterinário que ganha 40 mil coroas suecas e praticamente igual ao de um cientista político que ganha cerca de 35 mil coroas. Um salário digno que permite as profissionais que trabalham na coleta de lixo viver dignamente em uma boa casa com os itens básicos de conforto e eventualmente poder esquiar durante as férias em alguma estação europeia. Algo inimaginável para os lixeiros brasileiros cuja renda máxima gira em torno de dois mil reais.

Nos EUA a diferença salarial entre um médico e um profissional de enfermagem é muito menor do que ocorre aqui.

De acordo com a revista Forbes Brasil, um médico tem renda média de 200 mil dólares por ano, enquanto um enfermeiro recebe cerca de 106 mil. Ou seja, um relação de 2 por 1. No Brasil, enquanto a média salarial de um enfermeiro é de 4.000, o salário de um médico especialista pode chegar frequentemente a algumas dezenas de milhares de reais por mês.

Umas das vantagens de se ter um maior equilíbrio nas rendas dentro das diferentes atividades profissionais, é que se diminuiu a pressão sobre a demanda por cursos superiores. No Brasil, quando se pensa em formação superior, é prioritariamente do ponto de vista da renda e ascensão social. Na Alemanha muitos estudantes optam por cursos técnicos e profissionalizantes ao invés do diploma universitário. Isto porque um curso técnico pode garantir um ingresso mais rápido no mercado de trabalho apesar de uma renda um pouco menor do que um profissional graduado por uma universidade.

Quem viaja para o exterior costuma perceber a enorme diferença de preços entre uma cerveja servida na mesa de um bar ou da mesma quando adquirida num supermercado. Isto ocorre porque o custo da mão obra com garçons, cozinheiro e etc., é alto. E aqui falamos de salário e não de encargos trabalhistas que oneram o empregador e traz poucas vantagens ao empregado.

Outro exemplo de profissão vista de forma preconceituoso por aqui é a de empregada doméstica, um luxo pouco acessível nos países de primeiro mundo onde paga-se muito caro por este tipo de trabalho. Esta é uma atividade com a qual o Brasil guarda uma relação muito particular e que tem um pouco a ver com a nossa herança escravagista, dos tempos das mucamas a serviço de suas sinhás, e que finda a escravidão oficial se perpetuou na figura das moças, recém saídas da infância, comumente trazidas do interior do Brasil para trabalhar, praticamente por um teto e um prato, nas casas das famílias de classe média e alta das cidades. Não raro eram submetidas a todo tipo de abuso e humilhação sem direitos trabalhistas, sem jornadas de trabalho definidas, devendo estar sempre disponíveis ao patronato sete dias por semana. Só recentemente alguns avanços na legislação trabalhista que vieram corrigir estas distorções igualando os direitos das empregadas domésticas a outra categorias profissionais.

O curioso é que o exercício da profissão de empregada doméstica hoje em dia está longe do tempo em que praticamente não se exigia nenhuma qualificação. Hoje a tecnologia está cada vez mais presente dentro das casas, principalmente naquelas casas cuja renda dos proprietários ainda permite a contratação de uma empregada. É cada vez mais exigido destas profissionais a capacidade para operar máquinas e equipamentos eletrônicos complexos de última geração. Até para o uso correto de materiais de limpeza é necessária a leitura e compreensão das variadas instruções de uso específicos para cada tipo de material onde será aplicado. Isto sem contar em toda a preparação necessária para lidar com crianças cuja criação nada mais tem a ver com as de gerações passadas. Com a ascensão das mulheres ao mercado de trabalho, as empregadas já não são apenas cumpridoras de ordens sob a supervisão constante da patroa. Elas precisam agir com autonomia tornando-se co-gestora na administração do dia a dia da casa. E merecem ser valorizadas e muito bem remuneradas por isto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *