Porque cada vez há menos gente disposta a viver para o trabalho

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Você já deve ter visto este filme: profissionais começam a deixar seus empregos, especialmente os mais qualificados, e as empresas tendem a culpar o mercado.

E alegam que os funcionários pedem demissão em busca de melhores salários. 

Em algumas situações, isso é verdade.

Mas, em muitos casos, o motivador principal não é o dinheiro. 

O desejo por uma rotina com mais significado, e que contemple outros interesses além da carreira, não surgiu agora, mas foi intensificado na pandemia, já que a crise sanitária levou muitos profissionais a repensar o lugar que o trabalho ocupa em sua jornada.

Um estudo da Kaspersky, com mais de 8 mil trabalhadores, indica que 50% querem mudar de emprego para ter mais equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.  

Já uma outra pesquisa da consultoria Produtive mostra que 46% dos entrevistados pediram demissão por falta de perspectiva de carreira e desenvolvimento na empresa em que atuavam. 

É por isso que as perguntas sobre o que tem motivado a perda de talentos não podem mais receber antigas respostas.

É preciso aprofundar a questão e oferecer uma proposta de valor mais rica e plural ao empregado.

O outro lado do Burnout: profissionais buscam um trabalho com mais significado

Por muitos anos, o trabalho foi visto como elemento central na vida das pessoas.

Ser workaholic, trabalhando de forma ininterrupta, eram práticas glamourizadas.

Mantras corporativos do tipo “trabalhe enquanto eles dormem”, eram garantia de sucesso.

Porém, com a chegada das novas gerações, acompanhadas dos avanços tecnológicos, esse cenário começou a ganhar novos contornos e a alterar práticas de gestão de pessoas até das empresas mais tradicionais.

Segundo um relatório da Gartner, 67% dos profissionais aumentaram suas expectativas de que as companhias sejam mais flexíveis.

São indícios de que a dedicação exaustiva à empresa em troca de um posto mais alto na hierarquia está deixando de fazer sentido — e não só para as novas gerações. 

Nesse sentido, percebe-se um movimento de pessoas — e empresas — que estão desacelerando, procurando um estilo de vida mais simples, com mais qualidade e equilíbrio. 

Na prática, essa mudança de valores demonstra que  a maioria das pessoas não quer mais viver apenas para trabalhar e crescer na hierarquia com o único objetivo de ganhar cada vez mais.

A busca, hoje, está focada em ter flexibilidade, no desenvolvimento pessoal  e na busca por propósito. 

A pesquisa da Gartner mostra ainda que 91% dos líderes de recursos humanos estão preocupados com o turnover de funcionários num futuro bem próximo. 

Conceitos como Employee Value Proposition (EVP), começam a ganhar força nos ambientes corporativos.

Segundo o levantamento, 65% dos candidatos já interromperam um processo de contratação por causa de um EVP pouco atraente, e 85% deles ressaltam que é importante a empresa observar a pessoa por trás do empregado. 

Employee Value Proposition, ou EVP,  é um pacote de ofertas e valores que tornam a sua companhia única no mercado e permite atrair os e reter os melhores talentos. 

Essa proposta de valor, que está na essência de qualquer estratégia de Employer Branding (conceito de marca empregadora, que você pode saber mais aqui ) envolve  aspectos, como:

  • benefícios como férias, plano de saúde, flexibilidade de horário; salários e promoções;
  • Salários e políticas de promoções;
  • Oportunidades de desenvolvimento, plano de carreira, práticas de avaliação e feedback
  • O ambiente de trabalho: se permite, por exemplo, autonomia e equilíbrio entre vida pessoas e carreira
  • A cultura da organização: o propósito, os planos e os objetivos dela e como é a relação entre os times.

Porém, mais do que atender às expectativas dos funcionários, é preciso continuar inovando para manter o ambiente de trabalho o mais saudável possível.

Por isso, temas como a  felicidade no trabalho estão se tornando tão relevantes, que algumas empresas têm criado uma função especificamente dedicada a isso: o diretor de felicidade, ou Chief Happiness Officer (CHO), para garantir que os funcionários estejam felizes.  

No Brasil, o conceito chegou há cerca de cinco anos, com motivos de sobra para ser levado a sério: somos o país mais ansioso do mundo, segundo um estudo anterior à pandemia realizado em 24 países.

Mas quando se fala em felicidade no trabalho, muitas pessoas pensam em uma positividade tóxica ou algo utópico. 

Imaginam que o objetivo seja promover festas, colocar mesa de jogos na empresa e aumentar os benefícios para os funcionários.

Não se trata disso.

Ou melhor, não só disso. 

Amar a profissão não significa estar alegre o tempo todo.

Qualquer emprego é repleto de tarefas e desafios que não necessariamente trazem prazer. 

No entanto, se ao fim do dia a pessoa encontrar motivos para dedicar tanto tempo àquela função, os aborrecimentos que levam ao nível de esgotamento passam a ser minimizados.

O que as empresas precisam é cada vez mais construir ambientes com segurança psicológica, confiança e empatia.

Organizações que pretendem implantar o conceito de bem-estar precisam capacitar seus líderes em habilidades socioemocionais (as chamadas Soft Skills), começando pela empatia.

E para isso é preciso desenvolver lideranças mais humanizadas, que reconhecem e valorizam os colaboradores. 

Definitivamente, não dá para ser feliz em nenhum lugar tendo um líder ruim!!

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