O Novo Normal

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Ultrapassamos os 50 dias de isolamento.
E o que chamamos de ‘quarentena’, ao que nos parece pode durar meses.
Nessas últimas semanas, boa parte da população ‘economicamente nativa’ dos escritórios foi obrigada a experimentar uma nova rotina.
A qual chamamos glamourosamente de ‘Home Oficce’, nome bonito e importado de uma cultura de trabalho diferente da nossa.
Mas para muitos de nós, os dias se resumem em:
Sair da cama e emendar o café com uma reunião online.
E mal a gente desliga a câmera e já engata a segunda nos audios de Whatsapp.
Enquanto isso as crianças já começam a falar que estão com fome e o almoço de todo dia já não sai mais entre 12 e 13h.
A mesa de jantar, agora ocupada com o notebook e abarrotada de papel, boletos e receitas de bolo pra fazer já não cede lugar facilmente para o jogo americano.
Na parte da tarde, você recomeça as reuniões enquanto os filhos e os pets circulam pela sala e são transmitidos via zoom para todo mundo.
O tempo não tem pausa e aquele cafezinho com os colegas não acontece.
Você vê o relógio bater 20h e percebe que o fim do expediente nunca chega.

Num primeiro momento, para quem está ‘praticando’ o home office pela primeira vez, pode parecer caótico.
E de fato é.
Parece que não vai dar certo, nunca.
Mas Calma!
É só o primeiro momento.
Ao introduzir seu ritmo nas 24 horas do dia e dividi-lo de acordo com suas necessidades (e seu perfil) você vai perceber que esse estilo de vida não só pode dar certo, como pode ser muito mais produtivo e prazeroso.
Claro que esse novo jeito de trabalharmos nos exige uma certa disciplina e organização
(de tempo e espaço).
Mas esses dois pontos não são os mais desafiadores.
O mais difícil é você mudar seu modelo mental.
Fomos acostumados e educados para ter uma carreira linear e previsível.
Como numa linha de montagem, aprendemos a trabalhar de forma segmentada.
Onde cada um executa sua tarefa e a entrega para o próximo: muitas vezes o colega que senta na mesa ao lado.

A própria ascensão dentro da organização responde a esse mesmo mindset.
Pois é assim que gerimos nossas carreiras, galgando os degraus da escada corporativa.
Lá pelos 60 e tantos, você se aposenta e aí começa a encontrar tempo para fazer tudo que planejou na sua vida ‘produtiva’.
Pois para o nosso mindset linear e segmentado, existe a clara separação de ‘tempo para o trabalho’, ‘tempo para a família’ e ‘tempo para o ócio’.
Portanto, unir tudo isso no mesmo tempo e espaço parece um tanto quanto confuso, e até inapropriado.
Acontece que o mundo já vinha dando sinais da mudança.
Nós que não a percebemos.
Nos dias de hoje, ter uma carreira construída em cima de diplomas e títulos já não é tão importante.
Pois na era digital, os novos ciclos de conhecimento são cada vez mais curtos, nos exigindo o desenvolvimento de novas habilidades.
Além disso, o conhecimento deixou de ter uma linha de chegada para ser uma constante pela vida toda (lifelong learning).

Outro ponto é que a tecnologia permitiu que todo nosso trabalho esteja num equipamento móvel – seja o notebook, seja o smartphone – ou ainda na nuvem.
O fato é que podemos carregar a vida profissional para dentro de casa e a vida pessoal para dentro do trabalho.
Sem limites.
Na lógica industrial (a que ainda estamos presos) somos obrigados a fazer uma coisa de cada vez.
Por isso, ainda somos tão apegados ao comando: trabalhar e depois descansar.
Na lógica digital, a qual já pertencemos (mas resistimos) somos convidados a fazer várias coisas ao mesmo tempo: trabalhar, nos divertir, aprender.

Na evolução do mundo, é natural que o novo se consolide aos poucos até tornar o antigo obsoleto.
O hardware da sociedade que vivemos é totalmente industrial, enquanto o software que já está rodando em muitos de nós já é digital.
E sabe o que acontece quando você roda um software atualizado num computador antigo?
Dá pau!
E é daí vem o desconforto!
Mas podemos nos tranquilizar, pois agora o velho mundo vem sendo resetado para que uma nova versão seja baixada.
E enquanto estamos aguardando esse download terminar, aproveite para se livrar de velhas crenças e passe a encarar esse momento como uma chance para você limpar seu HD interno, abrindo espaço para o ‘novo normal’.

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