Seremos mais colaborativos na Era Covid?

Tempo de leitura: 5 minutos

Uma das metáforas mais usadas neste tempo de pandemia diz que ‘estamos atravessando a mesma tempestade, mas cada um no seu barco’.

Se levarmos essa metáfora para a época das grandes expedições, iremos perceber que as navegações eram solitárias, protagonizadas por destemidos desbravadores que ao final de suas travessias eram recebidos em festa, como verdadeiros heróis.

Por trás dessas aventuras haviam um propósito em comum, que era o de explorar novos territórios, onde a conquista era o legado da expedição.

Este velho mundo, aparentemente ilimitado, e de constante corrida para descobrir um novo território, favoreceu um modelo de muita competição e pouca colaboração.

A corrida exploratória nos levou a um mundo onde países lutam para ser a primeira economia do mundo, empresas buscam ser maiores e melhores em seu segmento, gestores que lideram seus times para serem ‘campeões’.

Até que de uma hora pra outra, todas as expedições de solitários navegadores chegam ao ano de 2020. 

E uma pandemia coloca países ricos e emergentes no combate à proliferação de um único inimigo.

Empresas que competiam no mesmo segmento se unem e passam a destinar recursos para o combate e prevenção da doença.

Gestores que detinham o controle do seu time não sabem como liderar pessoas à distância.

Funcionários que ‘seguiam o líder’ não conseguem olhar para além dos objetivos da empresa, quase sempre centrado no lucro, e não sabem muito bem para onde estão indo.

Visto que o liderado não trabalha por propósito, e talvez ele nem saiba o que isso significa, pois restava lhe aguardar por ordens a serem seguidas: ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo’.

Neste novo mundo a ser explorado, as grandes embarcações navegam pelos mesmos mares, incertos e revoltos, que as médias e pequenas: e ninguém sabe ao certo que rumo tomar.

Mas as grandes embarcações precisam de mais energia para se movimentar, energia essa que vem da sua tripulação.

Além disso, possuem pouca flexibilidade, só conhecem uma rota de navegação e quando precisam mudar de direção demoram a fazer uma manobra.

Geralmente são conduzidas por um capitão, que define o destino de toda a tripulação.

Esse é o cenário em que estamos todos navegando.

Não importa o tamanho da sua empresa ou negócio: as coordenadas de navegação estão sendo construídas agora.

E ao que parece, a travessia será longa. 

Durante essa crise sem precedentes, muitas empresas necessitaram implementar o trabalho remoto a seus funcionários para continuar operando.

Nesse contexto, as soluções de colaboração tornam-se ainda mais fundamentais para garantir não só o nível de produtividade das organizações, como também a sobrevivência dos profissionais, que buscam formas de se manterem produtivos em condições adversas.

O coronavírus modificou as necessidades, prioridades e comportamentos da grande maioria das pessoas, impactando diretamente nas formas de trabalho.

Rapidamente, fomos obrigados a adotar um ‘novo normal’, que nos tirou bruscamente todos os parâmetros de normalidade.

Uma pesquisa, realizada a nível nacional pela empresa de consultoria Corall apresenta a visão de 80 líderes que atuam em mais de 60 empresas brasileiras – entre elas, gigantes de cada setor, como Santander, Claro e Volkswagen.

Na última semana de março, 44% dos entrevistados responderam que gostariam de manter o sistema de home office mesmo após o fim da pandemia.

Mas, mesmo com os resultados positivos apresentados, a implementação do modelo, assim como a maioria das mudanças organizacionais, também traz desafios para as empresas.

Conseguir manter os  funcionários conectados, com o menor número possível de interferências é um dos obstáculos enfrentados pelas organizações nesse sentido.

E é justamente por isso que as práticas de colaboração estão ganhando cada vez mais espaço nas organizações.

Ao constatar que as estruturas mais robustas e rígidas são as que mais precisam neste momento de manter o alto nível de engajamento dos colaboradores, surge imediatamente a pergunta:

como definir objetivos comuns a um grupo de pessoas e mantê las alinhadas às iniciativas empreendidas, se não for através da hierarquia?

Frederic Lalloux, no livro ‘Reinventando as Organizações’, refere se ao termo ‘organizações autogeridas’ , cujos pilares devem ser pautados pela:

  • confiança entre todos os envolvidos
  • participação coletiva nas decisões
  • auto responsabilidade

Outras características da autogestão são: times auto organizáveis; papéis (e não cargos) mais fluidos; decisões descentralizadas; planos e orçamentos simplificados; transparência nas informações.

Para criar uma cultura ágil de colaboração nas organizações existem várias ferramentas e metodologias disponíveis que podem ser implantadas com o intuito de formar equipes dinâmicas com o intuito de minimizar o ‘efeito âncora’ de uma hierarquia rígida e centralizada, que impede as grandes embarcações de navegarem.

A facilidade que os avanços tecnológicos nos trouxeram (conexão, democratização da informação, acesso ao conhecimento, etc) nos coloca em xeque para que repensemos nossos processos. 

Se para os mais céticos, a colaboração no ambiente de trabalho era uma utopia, hoje ela é um estado de sobrevivência.

E se num passado recente você, ou sua organização, chegou ao outro lado da margem, parabéns!

Mas nesse novo mundo a ser explorado, você vai precisar de aprender a navegar com uma frota.

“A frota, estando assim mais aberta, observará mais prontamente os sinais e, com maior facilidade, se formará na linha de batalha; uma circunstância que deve ser mantida em vista em toda ordem de velejar”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *