A vida não é como uma estrada em linha reta: quase monótona de tão previsível.

Tempo de leitura: 5 minutos

“O correr da vida embrulha tudo; a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.” Guimarães Rosa

Vamos imaginar a vida como uma viagem feita de carro por uma estrada.

O nome dessa viagem será:

De algum lugar para não sei onde…

E os passageiros (eu, você e quem mais quiser embarcar) são: 

Não sei quem sou.

Vamos, então, começar a planejar essa viagem.

Afinal, não é isso que fazemos antes de embarcarmos para qualquer destino?

Definir a rota, traçar os pontos de parada, preparar a bagagem que vamos levar (alguns carregam só o essencial, outros precisam carregar o mundo), dar uma calibrada nos pneus e checar se está tudo ok com o carro, para que possamos nos sentir seguros ao partir rumo ao nosso destino. 

Mas não custa lembrar que o destino sempre é incerto, pois assim a vida assim também é!

Finalmente pegamos a estrada – geralmente escolhemos sempre as mais fáceis de trafegar – e vamos apreciando a paisagem.

E apesar de algumas curvas no trajeto, nosso único esforço será o de esterçar o volante para fazê-las com suavidade.

Mas eis que, de repente, acontece uma pane no nosso carro.

Em geral nossa primeira reação nesses casos é consultar o manual do veículo para que possamos, nós mesmos, resolver o possível problema.

Pois afinal essa viagem foi planejada com tanto esmero, que ficar no meio do caminho é algo inaceitável.

Mas daí, você tenta daqui, mexe dali e nada: o carro não esboça nenhuma reação. 

Você então começa a ficar tenso, preocupado, cansado.

A solução é chamar um reboque para a oficina mais próxima.

E o socorro pode vir de várias formas:

Você pode ser uma pessoa prevenida, dessas que se prepara pra esse tipo de imprevisto, e basta uma ligação para chamar o guincho do seu ‘seguro contratado’.

Mas você pode também não ter pensado em nada disso, ou até mesmo não ter tido tempo para tal providência.

Afinal ao longo da vida estamos quase sempre ocupados com nossas constantes viagens.

Então, só nos resta pedir auxílio para que alguém nos ajude a empurrar o carro até a oficina mais próxima.

Essa ajuda pode vir de um amigo (aquele que está sempre a postos para nos socorrer) que você simplesmente chama, e ele já chega com uma corda pra amarrar no seu carro e puxa lo.

Ao chegar à oficina você começa a ver seu carro ser completamente desmontado. 

E você achando que poderia resolver sozinho apenas consultando o manual, hein?

Agora, imagine que depois de desmontar aquele carro quase que por completo, você precisa “se vestir” de mecânico para, então, decidir o que fazer com tudo aquilo que está ali: peça por peça.

Pois afinal, um mecânico nada mais é do que alguém que sabe muito sobre alguma coisa.

E ao longo da vida fomos aprendendo muito sobre tantas coisas, não é mesmo?

Principalmente sobre a nossa própria vida.

Portanto nada melhor do que nós mesmos assumirmos a frente de remontar o nosso carro. 

E diante de todas aquelas peças e ferramentas disponíveis à sua frente, você começa a refletir sobre todas as viagens e caminhos que já percorreu até aquele momento.

Você vai, então, percebendo que muitas daquelas peças estão gastas e enferrujadas, necessitando que sejam substituídas por outras.

Algumas você vai apenas precisar recuperar ou reciclar, pois ainda servem para rodar por mais alguns quilômetros.

Outras você constata que já não fazem mais sentido, e começa a perceber que pode até rodar sem elas, sem que isso faça diferença na mecânica do seu veículo.

Pois nesse momento, você simplesmente deixa de procurar as respostas e orientações em um manual, para simplesmente olhar para dentro de si.

É quando você começa a perceber que tudo que precisa está bem ali: dentro de você mesmo.

É quando você deixa de lado as verdades absolutas que vinha acreditando, as certezas que vinha alimentando e as crenças que vem cultivando.

E você, de frente para todas aquelas peças ‘amontoadas’ diante de si, passa a fazer as seguintes perguntas:

No que eu devo acreditar de verdade? 


Sobre seus valores e crenças: o que deve permanecer, o que deverá ser descartado e o que deve ser reciclado?

O que era mesmo essencial pra você levar na sua bagagem? Ou o que eu preciso verdadeiramente para seguir a minha viagem?

Será que minha bagagem não anda pesando muito?

O que me fez acordar todos os dias para pegar uma estrada? Mesmo não tendo nenhuma garantia ou sabendo pra onde ela iria me levar.

O que me trouxe até esse ponto da estrada?

E por fim: porque eu decidi seguir por esse caminho, dentre tantos outros que eu poderia ter escolhido?

Ao buscar essas respostas, você já começa a se sentir seguro novamente para remontar o seu carro.

Depois basta dar uma realinhada, refazer a rota e pronto: você já pode seguir sua viagem e rodar mais alguns bons quilômetros.

Só não se esqueça de ter outros planos, caso seu carro resolva te deixar na mão de novo…

Porque assim é a nossa vida:

Hora somos o motorista: o que planeja a rota, o que guia e conduz o veículo.

Noutras somos apenas passageiros: os que simplesmente apreciam a paisagem ou são conduzidos.

Outras vezes apenas ligamos o “piloto automático” e seguimos em frente. Sem nos dar conta para onde estamos indo.

Mas em determinados momentos, como esse que estamos vivendo, precisamos  ser os nossos próprios mecânicos, tendo que sujar as mãos de graxa para retificar nossos motores quando estes ‘resolvem’ entrar em pane.

Independente do papel que teremos que assumir é importante lembrar que a roda da vida não pode parar de girar.

Trânsito congestionado, engarrafado ou parado. Estrada  livre e sem obstáculos.


Estamos na pista. Cada um na sua velocidade e intensidade.
Pisando forte no acelerador ou em um momento de pausa , estacionados e olhando para dentro.

Nós estamos na pista.

Que venham outras paisagens.

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