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Neste 15 de novembro de 2022, a ONU estima que a população da Terra terá chegado a 8 bilhões de pessoas. É um bocado de gente! Considerando-se que a soma da área total de todos os continentes é de cerca 150 milhões de km², isso implica numa densidade demográfica de mais de 53 hab/km².
Como boa parte dos continentes é composta por lugares inabitados como desertos, geleiras, cumes de montanha, etc., as pessoas foram se agrupando onde havia disponibilidade de recursos, principalmente água, e que vieram a se tornar, em muitos casos, centros urbanos densamente povoados, como São Paulo, por exemplo com seus 7.400 hab/km². Mas há lugares bem piores, como Daca, capital do Bangladesh, que tem 44.000 hab/km².
Estima-se que depois de dezenas de milhares de anos, a população global chegou a 500 milhões de habitantes no século XVI, quando se inicia as grandes navegações e descobertas de novos mundos. Trezentos anos, por volta de 1800, depois atingimos 1 bilhão. Demorou cerca de 123 anos, em 1927, para chegar a 2 bilhões, mas foram necessários somente 48 anos para chegar a 4 bilhões em 1975 e agora outros 47 anos para dobrar novamente. Essa última dobra eu vi. Esse número continuará crescendo, porém em ritmo menor. O quanto, é controverso, pois as taxas de fecundidade estão diminuindo mais rapidamente do que se esperava, mesmo em países em desenvolvimento. No Brasil, ela caiu de 6 filhos por casal nos anos 60 para 1,7 atualmente. Isso não é suficiente sequer para repor a população. Passado o efeito inercial residual, a população brasileira começará a diminuir, como já ocorre em diversos países europeus. Só que esse diminuir implica ao mesmo tempo envelhecer, o que acarreta uma série de problemas relacionados a mão-de-obra, previdência social, saúde pública, etc.
Quando se pensa em crescimento populacional acentuado, a primeira preocupação sempre é: haverá comida para todos? A resposta é: por enquanto, sim. A tecnologia tem permitido um avanço extraordinário na produção de alimentos. Se há tanta gente morrendo de fome tem a ver menos com capacidade de produção e mais com desigualdade social e má distribuição.
Só que, nessa sociedade moderna, as pessoas não querem apenas comida. É onde começam os maiores problemas e que nos colocam diante das escolhas que irão determinar o nosso futuro. Se nosso discurso de diminuição de desigualdades sociais significar levar a todas as pessoas os mesmos padrões de consumo vigente entre os mais abastados, não haverá recursos suficiente. Não há cobre para tanto fio elétrico, nem níquel e cádmo para tanta bateria, tampouco borracha para tanto pneu e, principalmente não há água potável pra todo mundo. Há um ditado que diz que “casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão” e um outro dizendo que “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Os dois nos indicam que em algum momento, a bomba da desigualdade vai explodir.
Se a situação onde alguns poucos têm muito mais do que o suficiente e onde a maioria é desprovida de quase tudo é inaceitável; ao mesmo tempo é insustentável a ideia de um mundo com tanta gente dispondo de todos os bens e mercadorias que a sociedade moderna produz e disponibiliza. Essa conta não fecha. O discurso do desenvolvimento sustentável é uma falácia e, pegando emprestado o nome do livro do Ailton Krenak, não passa de uma “ideia para adiar o fim do mundo”. As mudanças climáticas causadas pela atividade antrópica estão aí e tornam-se cada dia mais irreversíveis ante a falta de comprometimento com as ações que visam evita-las ou mitigar seus efeitos.
Por fim, é difícil prever também quais os planos que Gaia para conosco. Talvez ela venha dar a solução final. Desde que o homo sapiens vaga pelo mundo, a cerca de 300.000 anos, a humanidade já correu alguns riscos de extinção. A Teoria da Catástrofe de Toba, ocorrida na Indonésia, cerca de 70.000–80.000 anos atrás, sustenta que a população humana mundial pode ter se reduzido a 10 mil casais quando um super vulcão explodiu naquela região. Pode acontecer novamente a qualquer momento. Também tivemos a Peste Negra, que dizimou 60% da população da Europa na Idade Média. No século passado, a Gripe Espanhola matou 50 milhões de pessoas e poderia ter matado ainda mais. E agora vimos exposta novamente nossa vulnerabilidade com a Covid-19, onde mesmo com todos os avanços científicos foi preciso um tempo para controlar a pandemia, ao custo de milhões de vítimas. E, claro, há sempre a possibilidade do meteoro.
Em resumo, eu não faço a menor ideia do que o futuro nos reserva. Apesar dos indicadores ruins, todas as possibilidades estão igualmente colocadas e como sempre é dito, elas dependem apenas das escolhas que fizermos agora, mas sabendo de antemão que as margens de erro andam demasiadamente estreitas.